segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Biblioteca de Alexandria: “Aqui, cura-se a alma”


Esta Biblioteca abrigou o maior patrimônio cultural e científico de toda a Antiguidade. Ela não apenas continha um imenso acervo de papiros e livros, mas também incentivava o espírito investigativo de cientistas e sábios, transmitindo à humanidade uma herança cultural incalculável. Ao que tudo indica, ela conservou em sua estrutura interna mais de 400.000 rolos de papiro, mas esta cifra pode, em alguns momentos, ter atingido o patamar de um milhão de obras.

A importância desta biblioteca, entre os anos de 280 a.C. a 416, é literalmente proporcional ao seu tamanho, uma vez que muitas das obras guardadas ali eram copiadas e distribuídas por todas as bibliotecas do mundo civilizado. O fato de o lugar funcionar também como uma espécie de editora, multiplicando o número de livros e os distribuindo, contribuiu de maneira fundamental para a disseminação da cultura e a preservação de obras raras no mundo de hoje.


As bibliotecas gregas eram geralmente coleções dos manuscritos particulares, tais como a biblioteca de Aristóteles. Os templos do Egito tinham freqüentemente prateleiras que continham uma variedade de textos religiosos e oficiais. Foi a grande ambição de Ptolomeu I de possuir todo esse conhecimento existente no mundo que fez possível a realização dessa coleção em Alexandria.

Mas foram os métodos dos sucessores de Ptolomeu que tiveram certa originalidade para conseguir esse objetivo: um decreto do rei Ptolomeu III ordenava que os livros em poder de estrangeiros fossem confiscados e copiados na biblioteca. Até os navios visitantes eram revistados a procura de livros para serem copiados.

Todos os papiros eram escritos à mão. Cada um deles media 25 centímetros de largura e até 11 metros de comprimento. E foi o poeta grego Calímaco quem ordenou os manuscritos da biblioteca. As obras foram catalogadas em oito assuntos: teatro, oratória, poesia lírica, legislação, medicina, história, filosofia e miscelânea.

A reunião de mentes e documentos eruditos contribuiu consideravelmente para o desenvolvimento de vários ramos do conhecimento. Vejamos como a Astronomia e a Geografia foram beneficiadas.

Os movimentos das estrelas e do sol eram essenciais para determinar posições terrestres, já que eles proviam pontos universais de referência. No Egito, isso era particularmente vital para os direitos de propriedade, porque as oscilações de nível do Nilo, com freqüência alteravam as marcas físicas no terreno e os limites entre os campos.

Para Alexandria, da qual sobrevivia da exportação de grãos e papiro para o resto do Mediterrâneo, o desenvolvimento localização por meio da Astronomia possibilitou uma grande ajuda aos navegadores.

A criação da longitude e a latitude é creditada a Hipparchus, importando o sistema circular de 360 graus da Babilônia.

Eratóstenes, bibliotecário-chefe da famosa Biblioteca, é tido como o fundador da disciplina Geografia. Ele publicou uma obra chamada Geográfica, na qual estabelece um vocabulário próprio (tais como as palavras Geografia e geógrafo) para a disciplina antes tida como apenas técnica. Nessa obra, Eratóstenes afirma que Homero teria sido o primeiro geógrafo, em razão de este último ter feito descrições topológicas e climáticas de determinados locais e regiões na antiguidade.

Eratóstenes e Hipparchus

Eratóstenes associa Anaximandro com a origem da Cartografia, apesar de a técnica ter sido originada em Mileto no séc. VI a.C. Na Geográfica, o autor utiliza de descrições de viagens e expedições feitas por compatriotas para formular o que seria um mapa do mundo existente na época.  

Ele também ficou famoso por ter sido o primeiro a determinar o comprimento da circunferência terrestre.   Por volta de 276 a.C., Eratóstenes calcula o diâmetro da Terra, utilizando-se das diferenças de medidas das sombras do meio-dia entre Siena e Alexandria.

O mundo segundo Eratóstenes e suas medidas acerca da circunferência da Terra

Apenas matemáticos, astrônomos, filósofos e estrangeiros com o consentimento do rei podiam manusear os papiros da Biblioteca de Alexandria.  Somos privilegiados, pois ao contrário dos povos do Mundo antigo, hoje temos várias fontes acessíveis de leitura e informação. Mas há certa resistência à leitura, sobretudo a de qualidade, uma vez que estamos vivendo tempos em que se procura evitar o pensar.

Pensar não dói nem tão pouco a leitura.

Conta-se que havia na entrada da Biblioteca uma placa com os seguintes dizeres: “Aqui, cura-se a alma”

Pois bem, procure um bom livro, cure sua alma!

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